Propriedades do café podem ajudar a reduzir os riscos de doenças neurodegenerativas

No Brasil o café é considerado uma paixão nacional e o hábito de consumo é quase uma unanimidade, sendo muito comum em vários momentos do dia, seja como estimulante matinal, digestivo após as refeições, ou ainda para acompanhar reuniões, intervalos e lanches saborosos nas mais variadas situações. O ponto que muitas pessoas questionam, no entanto, é se ele realmente faz bem a saúde.

Segundo a nutricionista Valéria Rossoni, otradicional cafézinho é normalmente associado a efeitos benéficos para a saúde, porém, o excesso, como para todos os alimentos, é prejudicial. “Estudos já demonstraram que o café é capaz de proteger a saúde do coração, prevenir diabetes tipo2, e doenças como Alzheimer e Parkinson. Por outro lado, abusar do café pode causar aumento dos batimentos cardíacos, ansiedade, dores de cabeça, sono agitado, tremores nas mãos, aumento da pressão arterial. Em gestantes, o consumo acima da quantidade segura pode afetar o desenvolvimento cerebral do bebê”, explicou.

Quanto a medida de consumo mais segura, a nutricionista afirma que a quantidade de cafeína ingerida, varia conforme a aceitação de cada pessoa, sendo que as mais sensíveis sentem sintomas desagradáveis na primeira xícara. “O recomendado para adultos saudáveis seria não ultrapassar 3 xícaras de café coado. Já crianças e adolescentes até 1 xícara de café coado ao dia. Também devemos dar ênfase que o café expresso tem o triplo de cafeína que o coado”, destacou.

Valéria Rossoni é nutricionista especializada em emagrecimento e tratamento de patologias com Fitoterapia.

Valéria alerta que existem pessoas predispostas a efeitos colaterais devido ao consumo da bebida. “É o caso das gestantes, crianças e adolescentes sensíveis à cafeína, cardiopatas, pessoas com doenças gástricas já instaladas como gastrite e úlcera, hepatopatas, pessoas que já tiveram Hepatite, pessoas que fazem uso de medicações ansiolíticas e as que utilizam suplementos de academia, produtos que já são ricos em cafeína”.

“Ainda a melhor forma da pessoa saber sua tolerância ao café é analisar se, ao ficar muito tempo sem tomar a bebida, a sua qualidade de vida melhora, se sim, o recomentado é substituí-lo por chás ou sucos por 2 semanas”, orientou a nutricionista. 

BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS

Para saber se o consumo de cafeína tem um impacto negativo no cérebro conversamos com o neurologista Vinícius Oliveira Rocha Rodrigues, que explicou que o excesso, acima de 400mg de cafeína por dia, pode levar a sintomas como ansiedade, nervosismo, insônia, ataques de pânico e dependência. “É importante ressaltar que, além do café, também encontramos cafeína em outras bebidas como refrigerantes, energéticos, chás e chimarrão”, lembrou.

A cafeína também pode causar dependência, alertou o médico. “As pessoas que consomem cafeína regularmente podem apresentar sintomas desagradáveis como dor de cabeça, fadiga e irritabilidade. Isso ocorre porque quando uma pessoa para de consumi-la, o corpo pode sentir falta e reagir com sintomas de abstinência”, disse.

BOM PARA O CÉREBRO

De acordo com o neurologista, o café, quando utilizado em doses moderadas, pode ter efeitos benéficos no sistema nervoso central estimulando a atividade cerebral. “Em indivíduos privados de sono, a cafeína também melhora várias funções cognitivas, incluindo aprendizagem e tomada de decisões. O consumo de cafeína pode aumentar o estado de alerta e a capacidade de concentração, especialmente quando as pessoas estão cansadas ou trabalhando à noite”, disse.

O médico complementou mencionando que “alguns estudos sugerem que o consumo moderado de café pode reduzir o risco de algumas doenças, como o Parkinson e o Alzheimer, porém são necessários estudos maiores para determinar com melhor clareza estes efeitos. Além disso, o café contém antioxidantes e compostos anti-inflamatórios que podem ter efeitos benéficos para a saúde”.

A cafeína também pode ter efeitos benéficos no tratamento de dores de cabeça, sendo usada sozinha ou em combinação com outros medicamentos para tratamento de enxaquecas e dores de cabeça tensionais.

Sobre esse assunto, Rodrigues um alerta. “A cafeína também pode agir como gatilho para crises de dor em algumas pessoas. Além disso, podem ocorrer dores de cabeça de rebote quando a pessoa para de consumir cafeína depois de um período de consumo excessivo. Para evitar estes problemas, é importante limitar o consumo de cafeína e evitar o consumo excessivo de analgésicos. O ideal é conversar com um médico para identificar a causa da cefaleia e determinar o tratamento mais adequado para o seu caso”.

Vinícius Oliveira Rocha Rodrigues é neurologista, CRM 52464 / RQE 32230

EFEITOS NO SONO

Questionado sobre os efeitos da cafeína no sono, o médico comentou o resultado de um estudo publicado em 2021, conduzido por cientistas da Universidade de Basileia. “O estudo suíço foi feito com o pressuposto de que a cafeína, por atuar como estimulante, pode prejudicar o ciclo natural de sono dos indivíduos. Já era descrita em outros estudos a relação entre alterações no sono e perda de substância cinzenta no cérebro. Portanto, o estudo tentou avaliar se a cafeína, por alterar o sono, também poderia estar relacionada com alterações na estrutura do cérebro”, explicou.

Segundo o médico, os pacientes foram divididos em dois grupos, sendo um composto por aqueles que receberam cafeína e outro pelos que receberam placebo, sendo comparados após 10 dias. “Os resultados mostraram que o grupo que recebeu cafeína, ao final do estudo, tinha menor volume de substância cinzenta na região do cérebro responsável pela memória. No entanto, não houve diferença entre pacientes quanto ao sono, e a hipótese é de que, devido ao aumento no estímulo cerebral causado pelo café, seria necessário maior tempo de sono para a recuperação adequada”.

Neste estudo, os pesquisadores também relataram tendência de recuperação deste volume perdido após um período de abstinência de café, o que nos faz crer que estas alterações não são definitivas. “Os efeitos da cafeína no sistema nervoso ainda não são completamente entendidos, e sua relação com as diversas doenças neurológicas pode variar bastante, sendo benéfica em alguns casos e prejudicial em outros. Trata-se de um estudo muito pequeno, com apenas 20 pacientes, mas que pode ajudar a direcionar pesquisas maiores e mais definitivas”, concluiu.

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