Setembro amarelo e a importância da psicologia no combate ao suicídio

Redação com assessorias

O Setembro Amarelo é o mês de prevenção ao suicídio e, em 2022, ganha o lema “A vida é a melhor escolha!”. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 700 mil suicídios são registrados em todo o mundo. No Brasil, os números chegam a mais de 14 mil casos por ano. Os dados chocam, mas, de acordo com a OMS, seguem a tendência da América Latina, por causa da pobreza, desigualdade e situações de violência.

“Falar sobre saúde mental é de extrema importância, pois a população passa a compreender que isso também é uma questão de saúde pública”, explica Francileide Pimentel, psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da Unex, em Feira de Santana.

Uma pesquisa realizada pela OMS em 2017 revelou que o Brasil possui o maior índice de ansiosos do mundo, com 9,3% da população diagnosticada com o problema, e a terceira maior em depressivos, com 5,9%.

Porém, os efeitos da pandemia causada pela Covid-19 foram o estopim para a piora desses números. Em 2022, o índice de depressivos subiu para 13,5%, de acordo com pesquisa feita pela Universidade Federal de Pelotas.

“O medo de adquirir o vírus e morrer, associado à incerteza quanto ao futuro, sentimento de inutilidade, afastamento dos entes queridos e a solidão, afetou a todos nós, cada um de uma maneira singular de acordo com os conflitos e sofrimento já vivenciados anteriormente”, salienta a psicóloga.

Importância dos psicólogos

No ano em que a psicologia comemora os 60 anos da regulamentação da profissão no Brasil, o Conselho Federal de Psicologia alerta para a importância do psicólogo na prevenção do suicídio e dos transtornos psicológicos, como a depressão e a ansidade.

“O papel do psicólogo é importante justamente para oferecer uma escuta atenta, ética e responsável, do sofrimento humano e acompanhar a busca de saídas possíveis para cada um, desse sofrimento”, explica Francileide.

A profissional também defende que a saúde mental está diretamente ligada ao acesso a serviços básicos, como saúde, educação, lazer, esporte e cultura. “A saúde mental está intrinsecamente ligada com o bem-estar físico e psíquico, mas também ao social”, diz.

Por que falar sobre prevenção ao suicídio com crianças e adolescentes?

Ainda que seja um tabu, o assunto é considerado um problema de saúde pública. No Brasil, além dos cerca de 14 mil casos por ano, e essa é a quarta causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos, segundo a OMS. Só em 2021, o Hospital Pequeno Príncipe, maior exclusivamente pediátrico do país, atendeu 52 crianças e adolescentes por autoagressão. O número é 173% maior do que o total de atendimentos realizados no ano anterior. Além disso, o paciente com a menor idade atendido pela instituição por causa de idealização suicida tinha apenas 7 anos. Por isso, durante o Setembro Amarelo, mês em que se coloca o tema em destaque, o Pequeno Príncipe reforça a importância de se falar sobre o assunto, além de ressaltar a necessidade do cuidado com a saúde mental desde a infância.

A tentativa de suicídio normalmente ocorre após a pessoa já ter manifestado sinais de depressão, ansiedade ou outra questão de saúde mental. Por isso, é tão importante manter um canal aberto de comunicação entre as crianças e os adolescentes. “As dificuldades e os transtornos mentais existem e são genuínos. Incentivar que se fale sobre o assunto é assumir que esse tipo de problema existe na sociedade, inclusive na infância e adolescência”, discorre a psicóloga Angelita Wisnieski da Silva, do Hospital Pequeno Príncipe.

Existem diferentes situações que podem ser um fator de risco, como bullying na escola, violência doméstica, perda de um ente querido, uso de drogas e outras substâncias, divórcio dos pais e dificuldade no aprendizado. Entretanto, segundo a OMS, 90% dos casos de suicídio poderiam ser prevenidos pelo simples fato de se ter alguém com quem conversar. Por isso, informar-se para aprender e ajudar o próximo é a melhor saída para lutar contra esse problema tão grave.

É muito importante que as pessoas próximas estejam atentas às mudanças repentinas de comportamento e alterações de humor dos meninos e meninas, ajudem oferecendo uma escuta ativa sem julgamentos e auxiliem no encaminhamento a um psicólogo ou psiquiatra sempre que necessário. “Cada fase da vida tem seus conflitos, dúvidas e questões que podem gerar sofrimento, por isso é preciso olhar para essas questões e buscar estratégias de abordagem e tratamento”, reitera a psicóloga.

Precauções e cuidados precisam ser redobrados depois de efeitos da pandemia

A pandemia do novo coronavírus impactou e causou prejuízos não apenas nos sistemas de saúde e econômicos, mas, principalmente, provocou efeitos colaterais na saúde mental das pessoas. Não restam dúvidas de que o isolamento e o distanciamento social, adotados como medidas contra o vírus, foram essenciais para conter o avanço da doença em todo mundo. Contudo, eles deixaram sequelas. As pessoas perderam o contato físico umas com as outras, muitas se entregaram à solidão, com isso as taxas de ansiedade e de depressão no país aumentaram.

E os dados não param por aí. Um estudo realizado pela Fiocruz, em 2022, destaca que na primeira onda da covid-19 os números de suicídio aumentaram em todo o país. “O número de suicídios aumentou e isso é comum de acontecer em situações extremas, não só como pandemias, mas catástrofes naturais também. A decorrência do próprio isolamento social agrava muito as doenças mentais, porque as pessoas às vezes deixam de procurar os seus médicos e fazer um tratamento que vinha sendo feito ou então deprimem e não buscam tratamento. Além disso, a pandemia em si, os problemas econômicos, as mortes nas famílias, tudo isso é um caldo para os sintomas depressivos e com mais depressão, mais probabilidade de suicídio”, explica Frederico Dib, psiquiatra do Hospital São Francisco, de Brasília.

Para o psicólogo Fernando Machado, além dos efeitos colaterais da pandemia em si, um fator é determinante nesse processo é a volta à realidade da vida. “Voltar à vida real não é tão simples e nem tão fácil, exige um esforço de cada um. E como sei que estou pronto para fazer esse esforço novamente? Será que estou pronto para lidar com o mundo novamente? São perguntas como essas que fazemos nesse retorno”, detalha o profissional.

De acordo com Fernando, a resposta para elas está no equilíbrio, no respeito ao tempo e ao corpo de cada um. “Cuidar desse processo de pós-pandemia significa voltar aos poucos, voltar à rotina, respeitar a sua saúde mental, respeitar o seu tempo, respeitar o seu movimento”, comenta. “É importante ter cuidado com a autocobrança e focar aos poucos no agora, sentir o presente e cuidar da qualidade de vida e da saúde mental para aos poucos ir voltando à normalidade”, conclui.

Sinais para buscar ajuda

Conscientizar e prevenir contra o suicídio são tarefas de todos e que não devem ficar restritas ao mês de setembro. É importante falar sobre o assunto para que as pessoas que estejam passando por momentos difíceis e de crise busquem ajuda.

O psicólogo Fernando explica que podem existir vários sinais de que uma pessoa quer tirar a própria vida. “Não que seja uma regra absoluta, mas às vezes alguém fala que ‘do nada’ uma pessoa cometeu um suicídio, e a gente sempre fala que não existe ‘do nada’. Podem existir alguns pensamentos, alguns comportamentos e alguns sinais, sim, que a pessoa pode vir a cometer o suicídio. Assim como não é uma regra, também pode acontecer atos impulsivos. Mas existem alguns sinais, de fala e de comportamento. As pessoas às vezes se abrem para um amigo, que está tudo muito difícil, que ela se sente um fardo, um peso na vida, e às vezes passam uma autoimagem negativa, como de um perdedor, que a vida não faz sentido, que o mundo estaria melhor sem ela. Então, é preciso prestar atenção em algumas falas e ao social que essas pessoas acabam buscando”, afirma.

Informar-se para aprender e ajudar o próximo é a melhor saída para lutar contra esse problema tão grave. É muito importante que as pessoas próximas saibam identificar que alguém está pensando em se matar e a ajude, tendo uma escuta ativa e sem julgamentos, mostrar que está disponível para ajudar e demonstrar empatia, mas principalmente levando-a ao médico psiquiatra, que vai saber como manejar a situação e salvar esse paciente.

“É importante nesse momento pós-pandêmico, que deixa sequelas sociais e econômicas, buscar ajuda. Muitas famílias foram fraturadas ao longo desta pandemia e isso pode provocar um quadro depressivo. A primeira coisa é perceber isso e ir buscar ajuda, porque hoje os tratamentos são eficazes, tanto psicoterapêuticos quanto farmacológicos. A pessoa precisa entender também que não precisa passar por algo tão complexo e difícil sozinha, quanto antes ela buscar ajuda melhor”, finaliza o psiquiatra Frederico Dib.

Setembro Amarelo

A campanha é promovida anualmente pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). Em 2022, o Setembro Amarelo tem como tema “A vida é a melhor escolha!”, com o objetivo de mostrar que é fundamental falar sobre o assunto para que as pessoas que estejam passando por momentos difíceis e de crise busquem ajuda e entendam o valor da vida.

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