Sobre (viver) com o medo na pandemia

Nós estamos em alerta desde o início da pandemia do covid-19, e isso afetou a saúde mental de todos, pois estamos tendo que conviver com um vírus nocivo, que gera um medo coletivo.

Relatos de medo sempre foram constantes na vida do ser humano. Engana-se quem diz que não sente medo. Qualquer um que acionar a memória vai lembrar que já teve algum medo ao longo da vida. O fato é que ninguém gosta deste sentimento, já que nos faz lembrar as nossas fragilidades. Afinal, se pensarmos bem, não temos garantia de nada na vida. Contudo, além de inevitável, o medo é uma emoção importante para nos preservar e nos proteger do perigo ou de ameaça iminente, ele nos ajuda a preservar nossa vida.

Durante a pandemia, a sensação de insegurança é algo muito presente, e isso faz com que o medo apareça com uma maior frequência do que nos tempos pré-2020. Nesse momento em que o medo do contágio da covid-19 toma conta da vida social, parece natural termos este sentimento e alguma ansiedade também. Ambos são normais. Então, lembrando: o medo é uma emoção primária e tem a função de nos preparar para a ação diante de algo que possa ameaçar a nossa sobrevivência e ele nos instiga a desenvolver estratégia para manutenção da vida.

Sem o medo iriamos nos expor a tudo, sem pensar nas possíveis consequências. Ele tem nos feito utilizar máscara, higienizar as mãos, evitar aglomerações, nos vacinarmos.

Quando o medo se torna desproporcional e patológico, faz com que muitas pessoas adoeçam e desenvolvam possíveis transtornos com maior facilidade. O medo pode causar danos a nossa saúde física, mental e emocional, pois temos problemas quando este medo compromete o ritmo de vida e se torna uma doença como a síndrome do pânico ou crises de ansiedade elevadas e constantes.

Segundo um estudo feito pela Fiocruz em 2020, estima-se, que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados.

O sentimento permeia nossa vida de diversas formas: medo do enfrentamento do vírus, de adoecer, de morrer, de perder entes queridos, medo de perder o emprego e, com isso a garantia de condições básicas a sobrevivência. Situações que geram um forte impacto na saúde mental.

Hoje realizamos alguns tratamentos para auxiliar o indivíduo a lidar com sentimentos advindos da pandemia. Cada pessoa acessa os recursos de enfrentamento a sua maneira. O caminho é entrar em contato com as próprias emoções, verbalizá-las e compreendê-las. O medo não é apenas um sintoma ou patologia. Assim como a dor, apesar do desconforto, ele é um sinal de alerta que revela o funcionamento interno de cada um. Portanto, é preciso escutá-lo e perceber o que está por trás daquilo que tanto tememos.

Muitas vezes sentimos medo, ansiedade, tristeza, luto, desconfiança, preocupação excessiva, irritabilidade, angústia, desânimo ou sensação de impotência. São algumas das reações esperadas nesse contexto.

Porém, nada disso diminui a importância do cuidado a esses sintomas, pelo sofrimento causado e pelo possível agravamento do quadro sem o devido suporte.

Precisamos saber que o medo só vem quando acontece uma situação de insegurança e vulnerabilidade, e é sempre o contexto que vai dizer se aquele medo é esperado e nossa resposta a ele é saudável. No geral, ele tem grande intensidade e curta duração.

O medo continua sendo o mesmo, é a situação que mudou e por isso você precisa mudar também. Precisamos mudar a forma de enfrentá-lo buscando soluções simples e que estão dentro da nossa realidade, como:

  • Pensar de modo racional: quando a sensação de medo for mais intensa, procure se acalmar e racionalizar a situação. “Eu estou tomando todos os cuidados”. “A medicina está avançando para o controle”.
  • Você precisa saber que não está sozinho: Pesquisas mostram que muitas pessoas estão apresentando sensação de medo desde o início da pandemia.
  • Mantenha-se informado apenas com o necessário: escolha uma fonte somente, e confiável, de notícias para as suas atualizações sobre a pandemia, pois o excesso de informação contribui para a sensação de medo.
  • Fale sobre o que sente: compartilhe com pessoas próximas o que está sentindo e pensando sobre a pandemia, isso irá ajudar a acalmar sua mente.
  • Seja positivo: por mais difícil que seja se manter positivo, acredite que tudo isso irá passar e que hoje é menos um dia para o fim da pandemia.

Caso você perceba que está nesse processo do medo, de ansiedade e do estresse excessivos, busque ajuda profissional. Você não precisa “enfrentar ” tudo isso sozinha (o), afinal, você não está nessa sozinha (o).

Cuidar da nossa saúde mental é muito importante!

Psicóloga Rubiane Pilati Medeiros CRP 08/09857. Terapeuta EMDR – Especialista em Medos. Autora do Jogo de Tabuleiro STOP MEDO
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