Terapia EMDR ajuda o paciente no reprocessamento de memórias e sensações perturbadoras

O mundo no qual vivemos atualmente está passando por diversos impactos devido a pandemia da covid-19. Um desses conflitos está sendo observado na saúde mental do ser humano, que está sendo afetado pelo isolamento social, bombardeado com notícias trágicas, incertezas econômicas, medo de ser infectado por uma doença da qual ainda não se sabe muita coisa sobre um tratamento realmente eficaz e por não saber quando isso realmente irá acabar.

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Assim como a saúde física, a saúde mental deve ser acompanhada e é importante fazer ajustes para conseguir lidar com emoções negativas. Equilibrar a mente é essencial para a qualidade de vida e para ter um convívio social saudável, além de também ter influência no corpo, podendo causar sintomas físicos quando a mente não está bem.

Para a promoção da saúde mental, é essencial que cada indivíduo busque alternativas para manter essa importante área da vida em estabilidade, buscando tratamentos adequados para tratar situações que incomodem ou causam alguma instabilidade.

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Desde os problemas mais simples, até os mais complexos, é preciso compreender que as disfunções orgânicas acontecem por diversos motivos, e com isso, desordens mentais e físicas podem surgir, dentre eles estão as tendências depressivas, ansiedade ou transtornos psiquiátricos causados por influência genética, cultural ou de problemas originados na infância e adolescência.

De acordo com cada caso, existe um tratamento necessário para melhorar esses problemas, como medicamentos, atividades físicas, estabelecimento de hábitos saudáveis, distanciamento de assuntos prejudiciais ou a realização de terapia com profissionais qualificados para cada caso. As opções são diversas e dependem de como cada indivíduo reage ao estímulo.

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Terapia EMDR

Para falar sobre o momento atual e o método que utiliza para a terapia de seus pacientes, chamamos a psicóloga Claudete Grassi, que desde 2020 usa a terapia EMDR [que do inglês teria como tradução a dessensibilização e reprocessamento por meio do movimento ocular] para tratar seus pacientes de forma mais eficaz. Ela comenta que nunca na história as pessoas foram tão bombardeadas com notícias trágicas, se sentindo tão vulneráveis diante de uma situação teoricamente invisível, causando medo, ansiedade e insegurança. “Por isso, a psicoterapia passou a ser fundamental como forma de auxiliar nos processos de elaboração e superação de TEPTs (Transtornos de estresse pós-traumático) simples ou complexos. 

A terapia EMDR utilizada por Claudete é uma abordagem que vem sendo usada desde os anos 80, que trabalha para ativar mecanismos de criatividade do cérebro, ajudando a enfrentar problemas, reduzir sintomas de ansiedade, manifestações depressivas e para melhorar de forma geral a saúde mental do paciente. O método permite a dessensibilização e o reprocessamento de experiências através dos dois hemisférios do cérebro. É baseada na ciência psicológica e em pesquisas e teorias psicológicas da neurociência.

Como é feito

Na terapia EMDR, a profissional utiliza princípios, procedimentos, protocolos e scripts descritos em oito fases. Essa abordagem carrega a premissa de que cada pessoa possui uma disposição para a saúde, integração e capacidade interna para alcança-las.

Claudete conta que primeiramente é preciso analisar a história do paciente, conceitualizar o caso, elaborar um plano de tratamento, selecionar memórias traumáticas, avaliar os níveis de resiliência do paciente, fortalecer recursos que serão usados para atuar nos pensamentos negativos e sensações corporais, promovendo a auto regulação.

Nas fases seguintes são montadas a dessensibilização e reprocessamento dessas memórias, através de estímulos sensoriais (auditivo, ocular e/ou tátil) para ativar mecanismos de cura.

A explicação para o sucesso dessa abordagem parte da premissa de que o cérebro humano é formado por dois hemisférios. No lado direito predomina as emoções e o potencial artístico, enquanto no esquerdo há as capacidades lógicas e racionais. Tal divisão dificulta que haja sincronia entre a razão, emoção e ação, afetando a forma como são processadas as experiências de vida de uma pessoa. Por isso, o reprocessamento das memórias é um tratamento eficaz.  

Durante o tratamento, com o efeito da estimulação bilateral, o paciente é orientado a pensar na imagem ou se concentrar na sensação perturbadora, com estimulo continuo dos dois lados do corpo ocorre a sincronia e integração dos dois hemisférios cerebrais, os exercícios são repetidos até que não haja mais angustia no relato do paciente e o evento traumático é transformado em sentimento positivo e de confiança.

Objetivo da terapia EMDR

Claudete afirma que a terapia EMDR procura aliviar o sofrimento humano, com o propósito de obter efeitos eficazes em um curto período de tempo, mantendo estabilidade, com principal objetivo na cura emocional.

Com diversos efeitos positivos, a abordagem pode tratar ansiedade, ataques de pânico, depressão, estresse, fobias, transtornos do sono, elaboração do luto, vícios, alivio de dor, entre outros.

Todos podem se beneficiar com a terapia EMDR, essa abordagem pode acelerar o processo de terapia, solucionando o impacto de traumas passados. Contudo é na história clínica, conceitualização do caso e preparação do paciente que se determina como será conduzido o tratamento, e se o paciente pode ser submetido ao processo. Pacientes com traumas encefálicos, patologias cerebrais, em uso de medicações e gestantes devem conversar com o médico que o acompanha antes de iniciar o tratamento.

Protocolo gestacional

A psicóloga conta que os traumas psicológicos podem se desenvolver em todas as fases do desenvolvimento, desde a concepção até a morte. “O paciente nem sempre vem com uma demanda especifica, é comum ele vir com queixas do tipo ‘sinto ansiedade’, ‘um vazio enorme’, não há um evento e sim uma soma de situação que as vezes ele nem tem lembrança”.

Em alguns casos o rastreio pode iniciar pelo período de vida intrauterina através do Protocolo gestacional, no período gestacional o paciente não tem memórias de imagens, apenas sensações e perturbações corporais, “quando essas sensações e perturbações surgem nesse protocolo, são reprocessadas, e os resultados são surpreendentemente positivos”, conclui Claudete.

Duração do tratamento

A terapia EMDR pode ser um tratamento breve e focado ou parte de um processo de psicoterapia mais longo, assim como qualquer abordagem da psicologia, vai depender de cada caso e da resposta de cada paciente.

Essa abordagem permite ao paciente aprender a se auto regular com os recursos disponíveis e ensinos durante a sessão. Após a realização de todas as etapas do tratamento, o paciente tem condições de seguir sem a necessidade do processo contínuo. “No entanto, psicoterapia não é apenas superar traumas, é qualidade de vida, é importante manter a saúde mental organizada. Na minha experiência profissional, costumo avaliar conjuntamente com o paciente, o mesmo é encorajado a experimentar da maturidade emocional resgatada”, afirma Claudete.

Tratamento para os afetados pela pandemia

A psicóloga também afirma que essa abordagem utilizada pela terapia EMDR pode ser útil em pessoas que foram afetadas negativamente pela pandemia da covid-19. “A preocupação com a saúde mental da população nunca esteve tão em evidência, com uma grave crise epidemiológica e social, onde sentimentos de comoção e luto coletivo passaram a fazer parte do dia a dia”. Ela fala que a pandemia mudou o mundo, e ainda não há como prever o futuro de tudo que está acontecendo. “O que significa? O que podemos fazer? Com a terapia EMDR o paciente é encorajado a acessar recursos que já possuía, ressignificando memórias”, finaliza.

Como surgiu

Segundo o site TraumaClinic, em 1987, a Dra. Francine Shapiro, estudante de pós-graduação em psicologia, estava caminhando pelo parque da cidade de Los Gatos, Califórnia. Os pensamentos perturbadores que ela tinha começaram a desaparecer. Quando ela voltou a pensar neles, se deu conta que já não incomodavam como antes. Ela foi percebendo que, quando um pensamento perturbador vinha à mente, seus olhos começavam a se mexer rapidamente. Parecia que os movimentos oculares conseguiam fazer com que o pensamento incômodo saísse da sua mente consciente e quando voltava a pensar naquilo, tinha perdido muito da sua carga negativa.     
Então, ela começou a experimentar deliberadamente, pensando sobre coisas do seu passado e presente que lhe incomodavam enquanto ela mexia os olhos. Todas as vezes que fazia isso, a perturbação acabava. Então decidiu descobrir se isso funcionaria com outras pessoas e fez experiências com seus amigos. Pedia que eles seguissem o movimento dos seus dedos como uma forma de ajudá-los a manter os movimentos oculares enquanto eles estivessem pensando em coisas perturbadoras. Depois de experimentar com mais de setenta pessoas, ela confirmou que o processo tinha dessensibilizado os pensamentos perturbadores. 

Ela foi aperfeiçoando a técnica e chamou-o de EMD, Eye Movement Desensitization, e em 1990, expandiu o conceito para EMDR, Eye Movement Desensitization and Reprocessing, para incluir o conceito de processamento. Estava convencida que os movimentos oculares poderiam processar as lembranças traumáticas, libertando a pessoa para que pudesse ter condutas mais adaptativas e funcionais.

Em 1988, a Dra. Shapiro experimentou seu novo método com 22 voluntários veteranos da guerra do Vietnã ou vítimas de estupro e abuso sexual, que tinham os sintomas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático. A metade do grupo recebeu uma sessão de EMDR, enquanto que o outro grupo apenas contou o seu trauma em detalhe. O grupo de EMDR demonstrou melhorias significativas; o grupo controle, não.

Por questões éticas, depois se fez com o grupo controle o EMDR também. Ao averiguar um mês depois e aos três meses depois do tratamento, todos os pacientes tinha mantido os resultados positivos da sua sessão de EMDR. 

No Brasil, a Ph.D. Esly Carvalho iniciou o método em 1997, formada pela própria Dra. Francine Shapiro. Atualmente há mais de 3 mil profissionais de EMDR no país.

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