Volta às aulas e os perigos das doenças infectocontagiosas

Muitas famílias estão vivendo o período de volta às aulas e com ele surgem as preocupações com o retorno das crianças à comunidade escolar e os riscos à saúde que o convívio em grupos podem ocasionar, sendo frequentes a ocorrência de doenças infectocontagiosas, que são as patologias causadas por agentes biológicos, como os vírus, as bactérias ou parasitas. 

De acordo com a Infectologista, Susane Marafon, as viroses se tratam de doenças causadas por vírus. “Elas são as mais comuns no mundo e, quando falamos da faixa etária infantil, elas são o principal motivo de procura por atendimento médico. Mas virose não é tudo a mesma coisa. Cada uma delas tem sintomas específicos, tratamentos e evoluções diferentes”.

A médica relembrou que o  retorno ao ano letivo é sempre um momento de muita ansiedade para pais e alunos e é também um momento que gera muitas preocupações devido à aglomeração de alunos. “As crianças acabam compartilhando brinquedos e utensílios durante a permanência na escola e, com isso, aumenta a chance de surtos virais dentro da sala de aula, pois os vírus se espalham pelo ar, por gotículas respiratórias e pelo contato”, observou.

Sabemos que em alguns momentos do ano, algumas “viroses” são mais comuns. No verão são mais frequentes aquelas que causam diarreias e vômitos. Já no inverno, o que mais preocupa os profissionais de saúde são as que geram sintomas gripais.

Sobre a exposição das crianças a doenças como às viroses, Susane salienta que as crianças são mais vulneráveis, porque o sistema imunológico ainda está em fase de amadurecimento. “Além disso, a via respiratória delas é menos resistente, sendo mais susceptível a entrada de vírus, levando a novas infecções. Então é comum que uma criança tenha de 8 a 10 quadros virais em um ano. Mas essa recorrência vai diminuindo com a idade”.

O local e a rotina em sala de aula também elevam os riscos de contrair a doença. “As crianças permanecem mais tempo em local fechado, como a sala de aula, muitas vezes, com pouca ventilação, aumentando a chance de contágio, pois muitas das viroses são causadas por partículas respiratórias”, observou a médica.

CUIDADOS

Como já mencionado, as crianças ainda não possuem um sistema imunológico completamente formado para combater o contágio por vírus e bactérias, então medidas preventivas devem ser adotadas para evitar um surto de doenças nas escolas. “É muito importante que os pais mantenham o cartão vacinal atualizado. Podemos citar como  vacinas importantes para evitar doenças virais, a de sarampo, rubéola, catapora, gripe e mais atualmente a de COVID-19”, disse a médica.

A mesma relembra que é importante que os pais eduquem as crianças para medida de higiene básica, como lavagem das mãos rotineiramente, principalmente, após ir ao banheiro, ou espirrar, por exemplo. “Não levar crianças menores de seis meses em locais com aglomeração e evitar contato próximo com pessoas que apresentem sintomas. Educar os filhos, a não compartilhar objetos, como talheres e copos.  Ainda, recomendamos que ocorra a ingesta abundante de água filtrada sempre, alimentos frescos e bem manipulados. Outras  medidas importantes, muitas vezes não valorizadas, é a rotina de sono com tempo adequado e com qualidade, e a realização de consultas pediátricas de rotina”.

Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria afirmam que “as crianças cuidadas em creches ou pré-escolas apresentam risco de adquirir infecções aumentado em até duas a três vezes, com impacto na saúde individual e na disseminação das doenças à comunidade. O risco está associado, entre outros fatores, às características das creches, e medidas de prevenção simples são efetivas para diminuir a transmissão de doenças”.

Entre as recomendações para a prevenção estão: a lavagem apropriada das mãos após exposição; utilização de precauções padrão; rotina padronizada para troca e descarte de fraldas usadas, localização e limpeza da área de troca, limpeza e desinfecção de áreas contaminadas; uso de lenços descartáveis para assoar o nariz; funcionários e área exclusivos para a manipulação de alimentos; notificação das doenças infecciosas; treinamento de funcionários e orientação dos pais.

SINTOMAS

Com relação aos sintomas mais frequentes das viroses em crianças, a infectologista destaca dois tipos: osrespiratórios e os gastrointestinais. “Os sintomas respiratórios mais comuns são febre, nariz escorrendo ou entupido, tosse, espirros, dor de cabeça. Os sintomas gastrointestinais são aqueles que causam náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal e mal-estar. Muitas vezes, as viroses iniciam com um quadro de febre, e esse sintoma deve ser sempre um sinal de alerta para os pais e professores”.

Sobre os riscos de síndromes respiratórias, Susane afirma que elas são desencadeadas, principalmente, pela aglomeração de crianças no período de volta as aulas. “Este é um fator importante para o aumento dos casos de doenças respiratórias. Por isso a importância de manter o cartão vacinal em dia”, disse. Já com relação a COVID-19, a mesma relembrou que a gravidade da doença é muito menor em crianças, mas este risco existe e a vacina é a maneira mais eficaz de reduzir a probabilidade de danos à saúde”.

CONTAMINAÇÃO

Como não é incomum ocorrem surtos de viroses nas escolas, a recomendação é que “sempre que a criança apresentar algum sintoma os pais devem procurar atendimento médico para avaliação e, se necessário, devem afastar a criança pelo tempo determinado de cada doença das suas atividades escolares. Isso é importante para evitar surtos dentro da sala de aula”. 

Outro fator importante observado pela médica infectologista é que “a avaliação deve ser sempre feita por um médico e que não é necessário a utilização de antibióticos para tratamento de doenças virais. Claro, algumas vezes essas doenças podem complicar, mas a decisão de iniciar ou não algum antibiótico é sempre da equipe médica”, finalizou.

ROTAVÍRUS

Muito comum neste período, é o surgimento de doenças gastrointestinais e o rotavírus é, em grande parte dos casos, o agente causador de diarreia aguda e vômito nas crianças menores de cinco anos em todo o mundo.

De acordo com documento orientativo emitido pelo Ministério da Saúde (MS), a forma clássica das rotaviroses, principalmente na faixa de seis meses a dois anos, é caracterizada por uma forma abrupta de vômito, na maioria das vezes há diarréia e a presença de febre alta, porém, podem ocorrer formas leves nos adultos e formas que não apresentam sintomas na fase neonatal (recém-nascido) e durante os quatro primeiros meses de vida.

A forma clássica da doença, principalmente na faixa de seis meses a dois anos é caracterizada por uma forma abrupta de vômito, na maioria das vezes há diarréia (caráter aquoso, aspecto gorduroso e explosivo), e a presença de febre alta. Podem ocorrer formas leves e subclínicas nos adultos e formas assintomáticas na fase neonatal e durante os quatro primeiros meses de vida.

A rotavirose é transmitida pelo contato fecal-oral (fezes-boca), por contato pessoa a pessoa, através de água, alimentos e objetos contaminados. “Há presença de alta concentração do vírus causador da doença nas fezes de crianças infectadas”.

Como forma de tratamento, o MS recomenda aos pais e responsáveis que medidas imediatas sejam tomadas com o objetivo de fornecer a reidratação da criança doente. “Podem ser consumidos: água, chá, água-de-coco, sucos ou isotônicos, além das medidas simples de combate à desidratação, como o uso de soro caseiro. “A desidratação é o sintoma mais grave das infecções intestinais provocadas pelo rotavírus, isso porque além de reduzir as reservas de água do corpo, ela reduz os níveis de minerais importantes, como sódio e potássio. Não é recomendado o uso de medicamentos antimicrobianos e antidiarreicos”.

São sinais de alerta: a piora da diarreia, vômitos repedidos, muita sede, febre alta, recusa de alimentos; sangue nas fezes e diarreia que dura mais de cinco dias. “A desidratação, se não cuidada a tempo, pode até matar a criança”.

Como se prevenir?

– administrar a vacina contra rotavirus (VORH) em crianças menores de seis meses;

– seguir os cuidados com higiene pessoal e doméstica;

– lavar sempre as mãos antes e depois de utilizar o banheiro, trocar fraldas, manipular/preparar os alimentos, amamentar, manusear materiais/objetos sujos, tocar em animais.

– lavar e desinfetar as superfícies, utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos;

– proteger os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos, animais de estimação e outros animais (guarde os alimentos em recipientes fechados);

– tratar a água para beber (por fervura ou colocar duas gotas de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água, deixar repousar por 30 minutos antes de usar); guardar a água tratada em vasilhas limpas e de boca estreita para evitar a recontaminação;

– não utilizar água de riachos, rios, cacimbas ou poços contaminados;

– ensacar e manter a tampa do lixo sempre fechada; quando não houver coleta de lixo este deve ser enterrado;

– usar sempre a privada, mas se isso não for possível, enterrar as fezes sempre longe dos cursos de água;

– ter cuidado para não contaminar as fontes de água com fezes e lixo;

– manter o aleitamento materno aumenta a resistência das crianças contra as diarréias;

– evitar o desmame precoce.

Como preparar o soro caseiro:

Misture em um litro de água mineral, de água filtrada ou de água fervida (mas já fria) uma colher pequena (tipo cafezinho), de sal e uma colher grande (tipo sopa), de açúcar. Misture bem e ofereça o dia inteiro ao doente em pequenas colheradas. O soro não deve ser nem mais doce e nem mais salgado que água-de-coco ou lágrima.

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