Exposição ‘Windowology’ abre hoje na Japan House

Olhar pra lua, espiar o vizinho, defender sua posição política ou simplesmente tomar um banho de sol. Durante o isolamento, a janela foi a TV interativa do cotidiano. Mas, antes disso, em tempos de convívio social, era nas varandas – que não deixam de ser janelas grandes – que recebíamos amigos e fazíamos o churrasco de domingo. Enquanto no Brasil a vista é sinônimo de continuidade da vida, no Japão ela tem um aspecto contemplativo e introspectivo. Exatamente por isso, a janela foi escolhida como tema da nova exposição da Japan House que estreia nesta terça, 29.

Windowology: Estudo de Janelas no Japão fica em cartaz até 22 de agosto e tem entrada gratuita. A mostra foi concebida pelo Window Research Institute, instituição japonesa que realiza pesquisas em torno da janela desde 2007 e se baseia na crença de que elas refletem a civilização e a cultura ao longo do tempo. “Para que não fosse uma simples divulgação de pesquisa, escolhemos diversas formas visuais como exposição, com maquetes, fotos, vídeos, instalações e, considerando que seria mostrado para o exterior, também escolhi projetos desde os antigos até os mais modernos”, conta o curador da mostra Igarashi Taro.

Na arquitetura tradicional japonesa, as portas e janelas exercem um papel importante de transição. “Tudo é um único espaço durante o dia que pode se dividir a partir do uso desses painéis”, explica o arquiteto Lourenço Gimenes, do escritório FGMF, que assinou o projeto da Japan House São Paulo ao lado do arquiteto japonês Kengo Kuma. “E aí está um pouco da graça, talvez, da leitura das janelas na arquitetura japonesa: o grau de transformação da luz, ou seja, o tanto que você deixa essa luz entrar e a forma como você deixa ela entrar definem o uso, a privacidade e a característica daquele ambiente.”

Já do lado de fora, as portas e janelas têm a função de recortar a paisagem. É através delas que a natureza é enquadrada e passa a fazer parte da própria casa, como um quadro. “Se formos pensar em termos de comportamento, é algo como descrevemos o brasileiro e o japonês. Essa expansividade, informalidade, superficialidade de ver tudo e não ver nada – no Japão, há uma delicadeza de se mexer para transformar o espaço, enxergar um aspecto específico do jardim. O japonês é um povo muito observador, reservado, e isso encontra eco na forma de como eles constroem os próprios espaços, uma maneira delicada e afastada”, resume Lourenço.

“A minha impressão é de que no Brasil a gente tem uma sorte muito grande de ter muita luz, muito vento, de ter muita paisagem e talvez não exista uma valorização consciente da mesma maneira que se tem no Japão. Há uma lógica de abundância aqui, em muitas frentes, que talvez mude a nossa forma de valorizar”, opina a diretora cultural Natasha Barzaghi.

Windowology: Estudo de Janelas no Japão esteve em exposição pela primeira vez em Tóquio, em 2017, para celebrar os dez anos da fundação. A partir daí, passou a fazer parte de um programa de itinerância implantado pelo Ministério das Relações Exteriores do Japão. Por isso, esteve em sua versão online na Japan House de Los Angeles, chega agora em São Paulo, e segue depois para o centro de Londres.

Só pelo fato de o país ter um instituto que pesquisa janelas há mais de dez anos dispensa a explicação da importância desse elemento na arquitetura e no cotidiano do Japão. Na exposição, três chamam atenção. A primeira é uma réplica em tamanho real, feita de papel artesanal japonês (washi), de uma casa de chá, a yousui-tei, que tem o nome especial de “a casa das 13 janelas”. “Acredito que não haja uma arquitetura assim em outro lugar do mundo, sendo tão pequeno e com tantas aberturas. Normalmente, em uma exposição de arquitetura, diferente de uma de arte, não se pode ter a obra em sua dimensão real, pois não há como exibir em tamanho real, exceto as salas de chá”, pontua Igarashi Taro.

Ambiente. Também chama atenção a importância da janela no trabalho manual, ambiente nos qual ela possui um lugar de destaque, inserindo ou expulsando elementos como a luz, o vento, o calor, a fumaça, que alteram características de materiais como a argila e a madeira, e comidas como o nabo defumado, o caqui seco e o yuba, uma nata seca de leite de soja. Para garantir uma experiência multissensorial para o visitante, o restaurante do espaço cultural paulistano servirá algumas destas comidas.

Apesar de focar no Japão mais tradicional, a mostra também traz exemplos da arquitetura contemporânea, como as janelas inusitadas fotografadas pelo francês Jérémie Souteyrat em sua coletânea de fotos Tokyo no ie (As casas de Tóquio, 2014). “Isso mostra como a janela, mesmo nos centros urbanos, onde a vida tem uma outra característica, outra necessidade, também tem uma grande importância”, diz Natasha.

A mostra conta ainda com uma programação paralela online e conteúdos compartilhados por meio das redes sociais da Japan House São Paulo.

A estreia da exposição marca a volta da Paulista Cultural. “Há três anos, a gente criou a Paulista Cultural, que compreende as sete instituições culturais localizadas na avenida (Casa das Rosas, Sesc Avenida Paulista, Itaú Cultural, Centro Cultural Fiesp, Masp, Instituto Moreira Sales e Japan House) e cujas programações se cruzam, a fim de valorizar a região da Paulista como polo cultural”, explica Natasha.

Pela primeira vez, o grupo irá fazer uma edição totalmente online, na qual oferecerá cinco dias de atividades gratuitas 100% digitais e em formato de festival. Na ocasião, a Japan House convidou as instituições parceiras a contarem sobre a relação de seus edifícios com a própria avenida a partir de suas janelas, em sete episódios. A transmissão será feita pelo perfil do Instagram @paulistacultural.oficial.

SERVIÇO:

WINDOWOLOGY: ESTUDO DE JANELAS NO JAPÃO

JAPAN HOUSE SÃO PAULO

AV. PAULISTA, 52 – SEGUNDO ANDAR

HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO: DE TERÇA-FEIRA A DOMINGO, DAS 11h ÀS 16h

ENTRADA GRATUITA

RESERVA ONLINE (OPCIONAL): AGENDAMENTO.JAPANHOUSESP.COM.BR

INSTAGRAM E TWITTER: @JAPANHOUSESP

DE 29 DE JUNHO A 22 DE AGOSTO

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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