Obra de Bernardo Figueiredo vira mostra

Arquiteto, designer, visionário e brasileiro. Eis, em resumo, a definição de Bernardo Figueiredo (1934-2012). O profissional multidisciplinar, que se formou no auge do período moderno e atuou com pioneirismo, ganha uma exposição no Museu da Casa Brasileira (MCB), Bernardo Figueiredo: Designer e Arquiteto Brasileiro, em cartaz até 12 de dezembro. “A produção de Figueiredo está situada no cruzamento da arquitetura, urbanismo, design de mobiliário, design de interiores, cultura e suas inter-relações transdisciplinares”, diz Maria Cecilia Loschiavo, professora titular de Design da FAU/USP e uma das curadoras da mostra.
Seu pensamento aberto e sua identidade profissional sempre estiveram correlacionados com as condições culturais e sociais do Rio de Janeiro de seu tempo. “Ele se envolveu em diferentes experiências profissionais e humanas, sempre com uma atitude aberta e positiva, expandindo suas práticas criativas em direções interdisciplinares e em constante fluxo no Brasil e no exterior”, completa ela.
Na abertura da exposição no MCB, será lançado um livro homônimo (R$ 139). Publicado pela Editora Olhares, e escrito pelas próprias curadoras da mostra: além de Maria Cecília, Amanda Beatriz Palma de Carvalho, doutora em design, e Karen Matsuda, mestre em design. A obra também conta com texto de apresentação das filhas de Bernardo, Ângela Figueiredo e Adriana Figueiredo; prefácios do MCB e do diplomata Heitor Granafei, que coordenou uma grande pesquisa sobre o mobiliário original do Palácio dos Arcos; e ensaio fotográfico de André Nazareth.
“Uma coisa bem interessante desse livro é trazer para o público o conhecimento desse arquiteto e designer brasileiro, com uma obra tão vasta, tão grande, mas que ficou desconhecida por um tempo”, conta Amanda. “Aliás, isso é muito curioso, porque a gente estuda muito pouco os designers brasileiros na faculdade”, pontua.
Pela falta de pesquisas sobre o arquiteto e designer, o trabalho exigiu tempo e dedicação. “Em dezembro de 2019, foi feito o convite da professora Maria Cecília e então pesquisamos em jornais, escrevemos os textos, tudo feito com muito rigor e cuidado entre todas as partes. A Editora Olhares, as filhas com a questão afetiva, o nosso olhar da academia com a pesquisa, e depois isso foi transformado em uma exposição”, explica Karen. “É fundamental que toda a população tenha conhecimento do que foi feito no Brasil, por um brasileiro para os brasileiros.”
Apesar de não ser tão famosa, sua carreira é invejável. Bernardo traçou projetos urbanísticos, mobiliários notáveis, sempre valorizando materiais brasileiros, como o couro, o jacarandá e a palha, desenhou estandes para feiras nacionais e internacionais, empreendimentos comerciais, sendo pioneiro na criação de shoppings centers no País, como o Barra Shopping, inaugurado em 1981 no Rio de Janeiro.
“O móvel brasileiro existe quando atende às condições próprias da nossa gente. É essa exatamente minha preocupação ao criar um modelo. Proporcionar através do conforto, plástica, materiais e autenticidade o encontro daquilo que é acima de tudo útil para quem o procura. É uma questão de identidade”, dizia ele.
Ao longo dos anos, o profissional também ajudou a loja de design OCA, de Sergio Rodrigues, de quem recebeu forte influência, e conviveu com Joaquim Tenreiro, um dos pioneiros no design de mobiliário do País. Mas foi pela participação marcante na concepção do projeto de arquitetura de interiores do Palácio dos Arcos, também conhecido como Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores em Brasília, que ele ganhou projeção.
“Bernardo foi o designer que fez mais móveis de ambientes para o palácio”, conta Karen, que fez seu trabalho de mestrado sobre o tema. “Ele sempre pensava no objeto em relação ao homem. Sempre pensando na medida do corpo, como o corpo se relacionava com o assento, então nada mais justo do que a pessoa que visite a exposição tenha essa experiência.”
Ao entrar, o visitante é levado para Ipanema de 1960, com uma sala cheia de móveis de época, resgatados do acervo das filhas. Logo, é a sala do Itamaraty, a do meio, com alguns móveis de acervo e outros reeditados pela fábrica gaúcha Schuster, que desde 2011 produz os móveis de Bernardo. Nela, assim como no terceiro e último espaço interativo, é possível experimentar os móveis expostos e observar o vídeo do Palácio, criado por Ângela, com fotos e imagens de 1967 e 2017.
“Relançar os móveis de Bernardo significa manter vivo o legado e a própria história do mobiliário nacional, suas dificuldades, necessidades e propostas de solução. Tudo isso sempre apresentando uma brasilidade típica junto à discussão do jeito de ser e morar do brasileiro e suas relações com a natureza e sua filosofia própria”, comenta Wilson Schuster, diretor da empresa gaúcha.
Céu aberto
Para quem busca opções culturais sobre arquitetura ao ar livre, foi prorrogada até 19 de setembro a exposição do Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE) Amilcar de Castro: Na Dobra do Mundo, que reúne cerca de 20 obras do escultor neoconcreto, artista visual e designer gráfico. A ação é uma homenagem a Paulo Mendes da Rocha, arquiteto responsável pelo projeto do museu, morto recentemente e que teve como última colaboração com o museu a expografia da mostra.
A nova fase da exposição conta com maquetes, de Amilcar e de Paulo. Afinal, ambos usavam o papel para dar forma às suas ideias. Como comenta o próprio Mendes da Rocha, em seu livro Maquetes de Papel, “não se trata dessa maquete que é feita para ser exibida e eventualmente vender ideias. É a maquete como croqui. A maquete em solidão. Não é para ser mostrada a ninguém”.
“Sóbrias e desafiadoras, as respostas artísticas de Amilcar de Castro e Paulo Mendes da Rocha se baseiam na concepção virtuosa do projeto. Um projeto entendido como uma afirmação de desejos que se realiza de acordo com a técnica e o material. Assim, imaginando a ideia de uma sociedade capaz de planejar seu futuro e mensurar as consequências de suas ações, responsabilizando-se por elas. Algo que, no Brasil de hoje, volta a ter um sentido urgente”, pondera o curador Guilherme Wisnik.
Como alternativa, o museu oferece uma visita virtual, com um compilado extenso de materiais, entre eles, textos, comentários dos curadores, vídeos de bastidores e atividades educativas. Quem passar em frente do museu, a pé, de ônibus ou carro, também consegue contemplar as obras da parte externa e acessar os conteúdos via QR code, que está disponível em banners na fachada.
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