When the Music is Over – 50 anos da morte de Jim Morrison

Paulo Argollo

Uma das primeiras bandas que realmente me impressionaram quando eu era adolescente e começava a me embrenhar pelo mundo do rock n’ roll foi The Doors. Uma música mais densa que destoava da maioria das bandas dos anos 60. Por ser tão diferente, despertou em mim muito mais curiosidade. A biografia de Jim Morrison foi uma das primeiras que li, junto com as biografias de John Lennon e Elvis Presley. Me chamou muito a atenção que em suas entrevistas, quando perguntado sobre suas principais influências, Morrison não citava nenhum músico, mas apenas escritores, filósofos e poetas. Foi através de Jim Morrison que eu li, aos 15 pra 16 anos de idade, poetas como Rimbaud, Baudelaire e Willian Blake. Eu já tinha interesse pelo romantismo por ter tido contato no colégio com obras de Álvares de Azevedo e Lord Byron. E foi também através de Morrison que conheci, e me apaixonei, por Jack Kerouac e toda a geração beat.

Jim Morrison foi uma figura extraordinária do mundo pop contemporâneo. Assim como Bob Dylan e Lou Reed, sempre fez questão de manter sua história pregressa à fama sob uma névoa de mistério. Mas o fato é que ele foi uma criança que viveu o rigor de um pai militar e a solidão de quem viaja de uma base militar a outra periodicamente, não conseguindo estabelecer amizades sólidas. O interesse pela poesia surgiu cedo, ainda na adolescência e foi o que o moveu. Também descobriu cedo as delícias e excessos da vida boêmia. Quando ele chegou a Los Angeles com vinte e um anos de idade para cursar cinema da UCLA, finalmente se encontrou. Uma sociedade jovem que respirava arte e liberdade. Era o início do movimento hippie e sua ideologia paz e amor.

É neste ponto que fica tudo mais interessante. Jim Morrison era uma espécie de reencarnação de um poeta romântico do século XIX, interessado em misticismo, excessos, fascinado pela morte, era profundo e sombrio, muito diferente da euforia colorida do Flower Power. Basta ver as principais músicas dos Doors em 1967, o auge do “paz e amor”. The End, When The Music is Over, Moonlight Drive, Strange Days, Break on Thorugh… músicas que só encontrariam eco, em termos de temática e clima, na banda nova-iorquina Velvet Underground. Hedonismo, autodestruição, drogas pesadas se sobressaíam às canções ensolaradas dos Byrds, Beatles, Love, Pink Floyd (ainda com Syd Barrett) e etc.

Jim Morrison sempre foi fiel à poesia, e somente a ela. Era um subversivo de dar gosto. Quando viu que sua imagem começava a se tornar maior que sua arte, renegou a pecha de sex symbol e se entregou ao desleixo, deixou a barba crescer e passou a engordar. Quando se deu conta de que a banda começava a entrar em preciosismos musicais com arranjos complexos, insistiu para que começassem a tocar velhos blues e simplificassem seu som. Quando se cansou de tudo, quis voltar às suas origens da literatura e cinema e se mudou para Paris com sua namorada, de onde nunca mais sairia.

No dia 3 de julho de 1971, Jim Morrison foi encontrado morto na banheira de seu apartamento na capital francesa. Uma morte envolta em mistérios, assim como seu passado. Uns dizem que Morrison morreu de overdose no banheiro de uma casa noturna e, para evitar problemas, o dono mandou que os seguranças do bar levassem o corpo embora. Outros dizem que Jim morreu em casa negligenciado por Pamela, sua namorada, que estaria chapada de heroína. Já o laudo médico, que foi emitido horas depois do corpo ser encontrado e escrito por um médico de competência duvidosa que fez um exame que durou alguns minutos e sequer solicitou uma autópsia, atesta que Jim Morrison morreu aos 27 anos de idade em decorrência de um ataque cardíaco. Além do médico e de Pamela, ninguém viu o corpo do poeta. Não houve velório e o enterro foi feito com o caixão já lacrado. Uma lenda circula desde sempre dizendo que o baterista dos Doors, John Densmore, ao ver o caixão lacrado, teria dito: “olha o tamanho desse caixão! O Jim jamais caberia ali dentro”.

Seja lá quais foram as circunstâncias de sua morte, Jim Morrison ainda hoje é lembrado como uma das mais importantes personalidades da contra-cultura e do rock n’ roll.

Apesar de ser impossível dissociar sua imagem dos abusos de drogas e toda essa loucura, o mais importante é manter viva a obra Morrison. Suas letras e poemas eram realmente incríveis e espelham um grande artista que evocava as belezas místicas dos tempos antigos de Dionísio e o existencialismo contemporâneo de Allen Ginsberg. 50 depois de sua morte, cá estamos nós falando sobre sua curta e efervescente vida. A vida de Jim Morrison acabou, mas sua obra não. Esta ainda vai se manter por muito tempo. Só quando realmente a música acabar, apagaremos todas as luzes.

HOJE EU RECOMENDO
Filme: The Doors
Direção: Oliver Stone
Ano de lançamento: 1991
Muito já foi dito sobre este filme não ser lá muito fiel a alguns dos acontecimentos da trajetória dos Doors e até da forma como Jim Morrison é retratado. Mas, independente disso, é um filme ótimo e vale a pena assistir. E dá pra se ter uma boa ideia sim de como as coisas aconteceram e de como era Jim Morrison.

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