Ensinar a usar a internet, evitando a superexposição

Dirceu Antonio Ruaro

Tenho usado muito a expressão: “ensinar a…”e, neste período em que se iniciam as férias escolares, penso ser de extrema importância que pais e responsáveis fiquem atentos ao uso da internet pelas crianças e adolescentes.

As férias compreendem um período de afastamento físico dos amigos e, inevitavelmente, a frequência à internet aumenta significativamente. E isso se dá pela necessidade de preencher o tempo vazio que é deixado pela escola no período de férias escolares.

Em absoluto não é ruim que nossos filhos, crianças e adolescentes, procurem entretenimento e contato com os amigos e colegas de escola por meio da internet. É possível até que muitos adolescentes e jovens tentem suprir a solidão que sentem em casa, com a companhia virtual de amigos e colegas.

O sociólogo e escritor polonês Zygmunt Baumanconsidera que vivemos num mundo líquido que nos faz sofrer com uma solidão em meio à multidão, e para aliviar essa agrura apela-se às redes sociais e com isso há um excesso de exposição, tanto por crianças, adolescentes, jovens e adultos.

Para ele, esse é o resultado de um mundo globalizado e ainda precisamos aprender a lidar com elas e entender melhor suas consequências. O fato é que o desejo muitas vezes de se expor acaba fazendo com que crianças, adolescentes e jovens se tornam dependentes da internet e vítimas de fraude.

Por isso, torna-se necessário instruir para que tenham mais cuidado com o que postam nas redes sociais, pois há casos de jovens adolescentes que enviaram fotos íntimas pela internet e tiveram suas imagens divulgadas na rede e não aguentaram a pressão social e chegaram a atitudes extremas, atentando até contra a própria vida. 

O Unicef (órgão das Nações Unidas que cuida da educação) chama atenção, pois, adolescentes e crianças, no Brasil estão expostos aos crimes virtuais da rede. Afirma o Unicef que, de acordo com pesquisa realizada, mais de um terço das 14 mil meninas que participaram de uma pesquisa, realizada no Brasil, já compartilhou foto ou vídeo íntimo com alguém, e mais de 70% receberam nudes sem nem pedir.

Segundo estudiosos do assunto, o ser humano tem uma necessidade natural em se conectar com o outro. A ideia é permitir a transmissão de suas percepções, de modo a imortalizá-las e perpetuá-las nos demais. Em cada tempo isso aconteceu de forma única e hoje vem por meio da internet, ferramenta de fácil uso e acesso.

Entretanto, essa ansiedade em compartilhar, muito especial em crianças, adolescentes e jovens, pode leva-los à superexposição nas redes sociais. Mesmo os mais experientes não estão prontos para lidar com as consequências de suas postagens virtuais. Assim, quando imaginamos a nós mesmos nessa situação, pouco entendemos os perigos aos quais nos submetemos.

Precisamos chamar atenção dos pais e responsáveis, pois, especialmente nesse período de férias, crianças, adolescentes e jovens, têm uma necessidade maior de atenção, de companhia e, se não tiverem em casa, dos familiares, buscarão receber atenção de desconhecidos.

É preciso explicar às crianças, adolescentes e jovens que a internet nos dá a falsa sensação de que somos importantes para alguém por conta das visualizações que recebemos nas postagens e, essa interpretação equivocada, nos leva a publicar cada vez mais dados pessoais.

É preciso estar atento porque, especialmente, em relação às crianças e adolescentes, existem criminosos específicos em fazer a captação de imagens. Trata-se de pedófilos que reúnem arquivos para fins obscenos e tem acesso ilimitado a um conteúdo gratuito. Mesmo que pareça tentador divulgar a vida maravilhosa de mãe, ou pai, com os filhos é preciso pensar no bem-estar e segurança da criança.

Caso, você, prezado leitor, seja mãe ou pai, pense duas, três ou quantas vezes forem necessárias se pode ou não divulgar fotos de seus filhos, na piscina, nas brincadeiras, em casa, no clube e assim por diante. Ainda que acredite na inocência da situação, pense em como é desagradável ter seu filho entregue aos abusos virtuais alheios. O melhor lugar para guardar os bons momentos com os pequenos fica na sua mente e seu coração e não nas redes sociais.

Ensine seus filhos que quanto mais postagens pessoais circulando, fica fácil com que alguém as partilhe de modo perverso. Com isso, a intimidade de alguém pode ser rapidamente violada nas mãos erradas.

Ensine seus filhos a se precaverem com relação a superexposição nas redes sociais, a fim de garantir sua segurança. O que está em jogo é mais que as curtidas, mas sua própria vida. Ensine a configurar sua privacidade; ensine a pensar no que quer que os outros vejam ou se é adequado que os outros vejam; ensine que uma pose, uma maquiagem pode ser divertida, mas também mal interpretada; ensine, também, a evitar links suspeitos.

Sabemos que hoje em dia é praticamente impossível a gente não usar pelo menos uma rede social. É Facebook, Twitter, Youtube, Instagram, e tantas outras que aparecem por aí. Não dá para negar que elas são importantes fontes de informação, de momentos de descontração e de interação com a família e amigos. Mas, é preciso prestar muita atenção para não correr riscos desnecessários, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.

Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico Unimater

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