“Apagão de mão de obra” pode gerar evasão de empresas
Décadas atrás quando imigrantes brasileiros vivendo em outros países falavam de seus ganhos financeiros em atividades essencialmente braçais básicas davam a sensação de que viviam em outro mundo. Era algo muito distante da realidade de municípios paranaenses e catarinenses e outros em prosperidade no Brasil. O tempo passou e a realidade de grande parte das empresas brasileiras, que possuem trabalhos mais pesados ou em ambientes não tão agradáveis, passa a ser fator de preocupação de empreendedores, muitos deles vivendo uma fase de reflexão sobre formas de reter seus talentos ou tornar mais sedutor o ingresso das novas gerações nas atividades produtivas.
Não é difícil visitar empresas e constatar a escassez de gente para trabalhar, num contexto que oferece muito mais vantagens do que era disponibilizado décadas atrás. E aí vem a pergunta: – O que está ocorrendo? O que leva o Sul do Brasil ainda a possuir altos índices de desemprego e, ao mesmo tempo, carência extrema de mão de obra qualificada.
As respostas são variadas: a cultura do potencial trabalhador consumir o tempo com informações inúteis (Games, novelas, séries…) que não mudam a vida da pessoa; a mudança das prioridades das novas gerações num contexto econômico melhor do que foi décadas atrás, entre elas a valorização do ser e não do ter; a permanência dos jovens mais tempo na casa dos pais, demandando menor necessidade de recursos financeiros; políticas públicas sociais protecionistas e acomodadoras que “dão o peixe” e “não ensinam a pescar”; jovens que identificaram nichos de ganhos na Internet; lideranças imediatas e até lideranças diretivas despreparadas e até, diria, perdidas, na interação com as novas gerações no sentido de dar à elas o senso de pertencimento a organização em que atuam e perspectivas futuras; envelhecimento populacional; expectativas transformadoras imediatistas das novas gerações gerando frustrações e rotatividade de empregos; descrença dos jovens nos benefícios governamentais aos trabalhadores, especialmente previdenciários, que não oferecem segurança futura quanto ao retorno dos valores descontados e nestas variáveis nem citamos empresas com médias de remuneração abaixo do mercado que estão em condições ainda mais complicadas.
A realidade chega a tamanha dimensão em que dentro das estratégias evolutivas de organizações empresariais focadas em se desenvolver a automação, a robótica e até mesmo a mudança de plantas produtivas para outros centros com mais mão de obra são fatores seriamente cogitados. Altas direções vivem, em suas estratégias, o desafio de identificar alternativas sedutoras de atratividade e retenção de gente, de talentos demandando a busca de ações que sejam estimuladoras e intensifiquem a sensação de pertencimento.
Em algumas áreas carentes de gente profissionalizada o Brasil, tradicional por uma visão sindicalista, de proteção ao trabalhador, tem, sim, muitos casos em que o empregador passa a ser, verdadeiramente, o refém de seus funcionários, especialmente em pequenos negócios. Tudo numa relação “quer quer, não quer tem quem quer” que gera um verdadeiro rodopio na hierarquização com o surgimento de lideranças negativas, descomprometimento e baixa produtividade.
Apesar de tudo o que citamos o mundo vem mudando. Mais da metade dos negócios de hoje tende a desaparecer ou ser substituído num mundo não tão distante e caminhamos para a exclusão de cerca de 50% da população do mercado de trabalho gerando uma migração mundial, inevitável, para um “social capitalismo” com pessoas ganhando para viver. Você acredita que estas pessoas do “ganho vida” terão grandes valores mensais. Acredito que não. Para os 50% que restarem no mercado de trabalho, há a boa notícia: tendem a receber boa valorização.
Diante de tudo nos surge a grande pergunta: quem serão os 50% que ficarão no mercado de trabalho? Eles já estão claramente identificados por quem empreende pelo profissionalismo que envolve preparo, comprometimento, determinação, interação, equilíbrio emocional, produtividade e amor pelo que fazem. Estes trabalhadores já estão construindo sua empregabilidade futura, algo que não será uma realidade para aqueles que muito querem, pouco entregam; não param muito tempo nos locais de trabalho e, tendo oportunidade, trabalham negativamente como líderes negativos, mobilizando pessoas para interesses contrários ao da vitalidade das atividades empreendedoras.
Lembrando que as empresas para terem um papel social diferenciado precisam ter lucro. Sem o lucro tais empresas colapsam e ampliam a intensidade de excluídos, gerando menos tributos para governos cada vez mais vorazes e benefícios diretos para a economia.
O futuro é reflexivo e desafiador.
Marcelo Silveira Dalle Teze é administrador habilitado em Marketing, especialista em Gestão de Pessoas, MBA em Gestão Industrial.
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