Com o objetivo de impulsionar o avanço da tecnologia aeronáutica no Paraná, foi lançado na sexta-feira (25) o Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) Aeronaves de Pequeno Porte. A iniciativa, apoiada pela Fundação Araucária com um investimento de R$ 2,7 milhões, foca inicialmente no desenvolvimento de um avião agrícola de pulverização não tripulado.
O primeiro projeto do NAPI é o AgroVANT, uma aeronave agrícola de asa fixa com peso superior a uma tonelada. Inicialmente, o avião será pilotado remotamente, mas o objetivo a longo prazo é alcançar voos totalmente autônomos. A proposta apresenta uma solução tecnológica inovadora para controle de aeronaves agrícolas com propulsão a combustão, utilizando sistemas inteligentes embarcados e câmeras de apoio ao piloto remoto.
Participam do projeto pesquisadores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Instituto Federal do Paraná (IFPR), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e da empresa paranaense IPE Aeronaves, especializada em aeronaves de pequeno porte.
Segundo Douglas Renaux, pesquisador da UTFPR e articulador do NAPI Aeronaves, o desenvolvimento de um sistema digital de controle para um avião agrícola não tripulado deste porte é um desafio de alta complexidade e inédito no mundo. “Inicialmente, a aeronave será operada por um piloto em solo. Ao longo do tempo, aumentaremos o nível de autonomia até alcançar um voo 100% autônomo”, explicou Renaux.
Com a autonomia plena, será possível programar todo o trajeto do avião, incluindo decolagem, trajeto de pulverização e retorno. “Esperamos ganhos significativos em eficiência, efetividade e segurança, considerando que a aviação agrícola registra muitos acidentes envolvendo pilotos”, destacou o pesquisador.
Benefícios para a agricultura e sociedade
Os pesquisadores envolvidos serão responsáveis pelo desenvolvimento dos sistemas aviônicos e engenharia de materiais, enquanto a IPE Aeronaves fornecerá a aeronave, que vem sendo desenvolvida há mais de dois anos.
João Carlos Boscardin, sócio-gerente da IPE Aeronaves e presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPETEC), ressalta que o mercado agrícola é promissor: “São mais de dois bilhões de hectares a serem pulverizados no Brasil. Esta tecnologia atenderá a uma demanda nacional e poderá expandir para a América do Norte, África e Europa”, afirmou.
Dados levantados pela empresa indicam que, atualmente, no Brasil e nos Estados Unidos, há um acidente fatal por mês envolvendo pilotos agrícolas. “A remoção do piloto da aeronave tende a reduzir drasticamente esses números”, frisou Boscardin.
Atualmente, a pulverização agrícola é realizada, em sua maioria, por multicópteros — drones com hélices verticais — que possuem baixa autonomia e capacidade de carga limitada. O projeto AgroVANT, com sua estrutura de asa fixa, oferecerá maior eficiência, transportando cargas superiores a uma tonelada e operando a velocidades de até 150 km/h, muito acima dos cerca de 20 km/h dos multicópteros tradicionais.
Douglas Renaux reforçou que o novo modelo proporcionará “muito mais área pulverizada em menos tempo, com menor consumo de energia e combustível”, promovendo ganhos operacionais relevantes.
Impacto econômico e tecnológico
O presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig, destacou que o projeto representa a criação de riqueza, geração de empregos de alto valor agregado e fortalecimento da indústria tecnológica no Paraná. “A eletrônica embarcada será desenvolvida por universidades paranaenses, evidenciando o potencial de inovação do Estado”, pontuou.
O reitor da UTFPR, Everton Ricardi Lozano da Silva, também destacou a importância do NAPI Aeronaves: “Esta é uma iniciativa inédita e de impacto nacional e internacional. A expectativa é entregar para a sociedade um produto altamente tecnológico e sustentável”, afirmou.
Entre outros benefícios, o projeto permitirá pulverizações noturnas ou em condições de baixa visibilidade, otimizando o tempo de operação agrícola e respondendo às demandas sazonais da produção. Além disso, a eliminação dos danos causados pelos rastros de pneus e a redução da compactação do solo contribuirão para a preservação da qualidade agrícola a longo prazo.
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