Nos meses de outono e inverno, os tons alaranjados e avermelhados no céu ao amanhecer e entardecer tornam-se mais intensos, principalmente nas áreas urbanas. O fenômeno, que encanta os olhos, é resultado de uma combinação entre o percurso mais longo da luz solar, a inversão térmica e, principalmente, o aumento da poluição atmosférica.
Segundo Fernando Mendes, meteorologista do Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná), o efeito visual ocorre porque, nos horários próximos ao nascer e ao pôr do sol, a luz do astro-rei percorre uma distância maior na atmosfera. “A luz azul e violeta, que têm ondas mais curtas, são dispersas, enquanto as ondas longas — como as vermelhas, alaranjadas e amarelas — conseguem atravessar e alcançar nossos olhos. Poluição e poeira intensificam ainda mais essas cores”, explica.
Inversão térmica
Mas por que esse fenômeno se intensifica justamente nessas estações? A resposta está na inversão térmica — quando uma camada de ar quente se posiciona sobre uma camada de ar frio próxima ao solo, impedindo a dispersão dos poluentes e criando esses tons alaranjados. “É o oposto do padrão normal da atmosfera. Com isso, os poluentes ficam retidos perto da superfície, piorando a qualidade do ar, especialmente nas cidades”, detalha Mendes.
As regiões metropolitanas são as mais impactadas, já que concentram atividades como obras, tráfego intenso e emissões industriais. A exposição contínua a poluentes, como o material particulado, pode desencadear uma série de doenças respiratórias e cardiovasculares.
Estiagem e risco de queimadas
Além dos impactos à saúde, o período seco e a vegetação fragilizada aumentam o risco de incêndios florestais. A fumaça gerada por esses focos também contribui para alterar a coloração do céu, deixando-o acinzentado e com aparência de nebulosidade. “A fumaça pode se espalhar por longas distâncias. Em imagens de satélite, é preciso análise criteriosa para diferenciar nuvens de fumaça”, pontua Mendes.
Tecnologia a serviço da prevenção
Para monitorar esses eventos, o Simepar opera desde 2015 o sistema VFogo, que utiliza sensoriamento remoto e inteligência artificial para identificar focos de calor em tempo real. A plataforma integra dados do Simepar, do Inpe, da Nasa e de satélites europeus e americanos, com atualizações a cada 10 minutos.
Em 2025, até o momento, já foram registrados 258 focos de calor no Paraná. Os números variam a cada ano: em 2024, foram 2.704; em 2023, 1.439; em 2022, 1.778; e em 2021, 3.701. Importante destacar que nem todos os focos representam incêndios. Quando um foco suspeito é detectado, o Simepar e a Defesa Civil notificam o Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR), responsável por verificar a situação.
Segundo o CBMPR, os incêndios florestais representaram 10,8% de todas as ocorrências em 2024, totalizando 13.558 atendimentos — mais que o dobro do registrado em 2023 (6.484 casos).
Atenção redobrada
Especialistas alertam: embora os tons alaranjados no céu sejam um espetáculo natural, eles também são um sinal visível das transformações na atmosfera e dos impactos da ação humana no meio ambiente.
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