Desejo de ser um doador de órgãos e tecidos exige conversa franca com os familiares

Na última terça-feira (27), quem passou pela Praça Presidente Vargas, em Pato Branco, foi convidado a uma conversa diferente e muito importante: a doação de órgãos. A mobilização, realizada pelo Hospital Filantrópico Policlínica, celebrou o Dia Nacional da Doação de Órgãos e reforçou o Setembro Verde com a tentativa de conscientizar a população sobre a importância de ser um doador e de conversar com a sua família sobre essa vontade.

A mobilização foi coordenada pela Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) do Hospital Filantrópico Policlínica. A enfermeira Luciane de Andrade, integrante da comissão, acredita que o assunto ainda gera muita polêmica e que é preciso que aqueles que querem ser doadores deixem clara a posição para seus familiares.

Por que falar sobre doação?

A importância de ter essa conversa é porque, mesmo que o Brasil seja o segundo país do mundo que mais realiza transplantes – atrás apenas dos Estados Unidos –, em 2022, conforme a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), mais de 45% das famílias se recusaram a autorizar a doação de órgãos e tecidos. E, por aqui, ela acontece somente após autorização familiar de alguém que tem morte encefálica comprovada.

De acordo com uma pesquisa conduzida pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é essa recusa familiar o principal impeditivo da doação no nosso país, por isso é fundamental falar com a família sobre o desejo de doar uma ou mais partes do corpo para ajudar no tratamento de outras pessoas. “A doação de órgãos só acontece após autorização por escrito de familiar. Para ser um doador de fato, é muito importante que as pessoas declarem isso, avisem suas famílias sobre sua vontade, pois serão os familiares que decidirão pela autorização ou não da doação dos órgãos”, reforça. “Em conjunto com os acadêmicos de Enfermagem, promovemos essa ação para sensibilizar a comunidade. Procuramos abordar temas importantes, como a morte encefálica, sobre como funciona o processo de doação e, especialmente, que a família é que deve, obrigatoriamente, autorizar legalmente a doação de órgãos de uma pessoa que é doadora em potencial”, explica a enfermeira.

A enfermeira lembra que a doação é única maneira de aumentar a sobrevida dos pacientes portadores de doenças das quais necessitam de um transplante para continuar a viver. “Cada doador poderá salvar mais de oito vidas. Podem ser doados rins, fígado, coração, pulmões, pâncreas, intestino, córneas, valvas cardíacas, pele, ossos e tendões. Com isso, várias pessoas podem ser beneficiadas com os órgãos e tecidos provenientes de um mesmo doador”, comenta.

Lista de espera e pandemia

Conforme Luciane, a lista a espera de um órgão ou tecido durante a pandemia aumentou significativamente. “Com isso podemos concluir que a fila aumentou e os doadores diminuíram”, explana.

A enfermeira realmente está certa. No Brasil, no primeiro semestre deste ano, a taxa de doadores efetivos caiu em 13%. Os dados são da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). A variação negativa está relacionada com a pandemia, já que a taxa de contraindicação aumentou 44%, tanto pelo risco de transmissão de covid-19 quanto pela dificuldade da realização do teste PCR e da obtenção rápida de seu resultado.

Protocolo seguro

Mesmo que o momento seja sensível e que os familiares sintam-se inseguros em autorizar a doação, esperando sempre por um “milagre”, Luciane lembra que o protocolo de morte encefálica é seguro, ou seja, quando é declarada a morte cerebral não há mesmo chances de reverter o quadro do possível doador. “Ele é realizado por médicos especialistas, capacitados para a função, que realizam exames extremamente sensíveis para captar a interrupção irreversível do fluxo cerebral, diagnosticando morte cerebral ou encefálica, sendo impossível a reversão do diagnóstico”, explica.

Na praça, além da campanha pela doação de órgãos, os acadêmicos de Enfermagem fizeram o controle de pressão arterial e exames de açúcar no sangue nas pessoas que visitaram o estande.

Números

Enquanto atualmente mais de 59 mil pessoas esperam na fila por um órgão, conforme o Ministério da Saúde, em 2021, foram feitos cerca de 23,5 mil transplantes, sendo cerca de 4,8 mil de rim, 2 mil de fígado, 334 de coração e 84 de pulmão.

O Hospital Filantrópico Policlínica de Pato Branco está entre os mais de 600 hospitais de transplantes autorizados e faz de Pato Branco uma referência estadual em transplantes. Na instituição, são realizados transplantes de coração e rim.

Desde abril deste ano, quando os procedimentos foram retomados após dois anos de suspensão por causa da pandemia de covid-19, já foram realizados 13 transplantes de rim, sendo três com doadores vivos e 10 com doadores falecidos. Desde 1985, quando o serviço de transplante renal foi credenciado em Pato Branco, foram realizados 959 procedimentos, sendo 27 de coração. Neste ano, ainda não houve transplante cardíaco.

O Paraná é líder em transplantes, mas fila de espera é grande. De acordo com o Sistema Estadual de Transplantes do Paraná (www.paranatransplantes.pr.gov.br), até maio deste ano, 2.891 pessoas aguardavam na lista de espera para transplantes de órgãos e tecidos.

Quem recebe os órgãos?

Os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em uma lista de espera única, organizada por estado ou região, e monitorada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT).

O Brasil possui o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo, que é garantido a toda a população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pelo financiamento de cerca de 88% dos transplantes no país. Através do SUS, os pacientes recebem assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante.

*Com informações das assessorias

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