Negacionismo e dopamina

Como o sentimento “da moda” é explicado por uma mudança nas funções cognitivas e vicia as pessoas em busca de autoafirmação

A palavra “negacionismo” está na boca do povo. Amplamente comentada, a expressão tem sido usada para destacar a posição de algumas pessoas a respeito da pandemia que o mundo vive há pouco mais de um ano. Mas qual é o real sentido do vocábulo para a ciência?

Se por um lado a expressão está cada vez mais empregada pelas pessoas, por outro é importante compreender como ela se aplica no corpo humano e seus efeitos, revela o PhD, neurocientista, neuropsicólogo e biólogo Fabiano de Abreu.

“O negacionismo libera a dopamina, o hormônio da recompensa. Quando a pessoa defende aquele argumento, ela quer demonstrar a todo custo que possui razão, e por isso quando ela é liberada pelo cérebro, a pessoa passa a ter sensações de felicidade, alegria e bem-estar. Além do desejo de defender seu argumento, ela também passa a se nutrir daquele sentimento positivo”.

É o que explica, por exemplo, a atitude de alguns negacionistas na internet. “Quando elas estão em baixa, precisam encontrar métodos para levantar sua moral e esse meio virtual é deles. Afinal, ao atacar os outros e buscar, ainda que de forma negativa, uma maneira de sobressair e colocar o seu nome em evidência”.

E o negacionismo, nesses casos, está plenamente ligado à necessidade de ser visto, observa Abreu. “Quando você nega algo e expõe isso, você está também diante de um caso de narcisismo. A dopamina nesses casos acaba sendo liberada, pois você quer provar ter razão naquele argumento. E esse hormônio é viciante, daí você terá necessidade cada vez maior de nutrir dele. Ao defender seu argumento na internet, você coloca para todos seu lado narcisista. E, enquanto isso a dopamina liberada vai te ajudar a sair das situações negativas que você estava vivendo”, completa. (Assessoria)

Negacionismo ao longo da História

Negacionismo é recusar e negar uma realidade cientificamente comprovada e negar à ciência não é um fenômeno recente. No início da Idade Moderna, para calar quem trouxesse a ciência para o debate, a Igreja jogava as pessoas na fogueira.

O filósofo Giordano Bruno foi condenado à morte por defender a existência de vida em outros mundos. Galileu Galilei foi processado pela Inquisição e precisou negar as suas teorias sobre o Heliocentrismo, a teoria que coloca o sol no centro do universo, para não ter o mesmo destino de Giordano Bruno – a Igreja Católica defendia o Geocentrismo.

Os negacionistas do Holocausto negam que o genocídio mesmo diante de pesquisas, estudos e depoimentos de sobreviventes. Ou seja, eles afirmam que os nazistas não assassinaram seis milhões de pessoas, que não existiram câmaras de gás para assassinato em massa e que as mortes ocorridas sob o domínio nazista foram resultado somente da Segunda Guerra Mundial.

Apesar de mais de 2 mil anos de ciência e conceitos provando que a Terra é redonda, hoje a gente se depara com terraplanistas. Há também um movimento antivacina. E, o mais recente, a negação às medidas de combate ao covid durante a pandemia.

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