Baixa taxa de vacinação pode ocasionar no retorno da poliomielite

Um caso da doença está em investigação no Pará

Voltando a assombrar diversos países pelo mundo devido a baixa taxa de cobertura vacinal, a poliomielite, também conhecida como paralisia infantil é uma doença altamente contagiosa causada pelo poliovírus. A polio pode infectar crianças e adultos através do contato direto com secreções eliminadas pela boca e fezes das pessoas acometidas pela doença.

Foto: freepik.com

Até hoje a doença não possui cura, sendo que no Brasil a primeira vez que um surto de poliomielite foi identificado aconteceu em 1911, sendo controlada através do uso de vacinas, principalmente após vacinação em massa na década de 80, o que diminuiu o número de infectados de 1280 para 122 após a vacinação.

Os últimos isolamentos de pessoas com poliomielite no Brasil aconteceram em 1989 e, desde então, não gouve mais caso de poliomielite selvagem no país e deixou de ser considerada a doença mais temida do mundo. Em 1994 o Brasil recebeu o certificado de eliminação da doença.

Porém, atualmente, com a taxa de vacinação abaixo do esperado para a imunização de rebanho no Brasil, problemas relacionados à vigilância epidemiológica e condições sociais, as autoridades brasileiras voltaram a se preocupar devido ao país ser de grande potencial para o retorno da doença.

Conheça os sintomas

Entre os sintomas mais frequentes que acometem os infectados pela polio estão a febre, mal-estar, dor de cabeça, de garganta e no corpo, constipação, diarreia, vômito, espasmos, rigidez na nuca e meningite. Quando a doença se agrava, instala-se a flacidez muscular causadora da paralisia e que pode até mesmo levar à morte.

Por ser uma doença sem cura, o tratamento é realizado em casa hospitalar para amenizar os sintomas. O grande problema chega com as sequelas da doença que consistem em dores nas articulações, pé equino (a pessoa não consegue encostar o calcanhar no chão), escoliose, osteoporose, paralisia dos membros, crescimento diferente das pernas, paralisia dos músculos da fala e da deglutição, atrofia muscular, dificuldade para falar e hipersensibilidade ao toque.

Alerta

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) fez um alerta de que o Brasil tem corre grande risco de reintrodução da poliomielite devido a queda da cobertura vacinal.

De acordo com o ex-ministro da saúde e criador da campanha que deu vida ao Zé Gotinha, Luiz Carlos Borges da Silveira, o risco é sobre o mundo todo devido a rápida velocidade que o vírus tem para atingir a população trazendo consequências terríveis.

“Quando nós criamos o zé gotinha, foi em 1987, eu estava no Ministério da Saúde, nós estávamos com um surto de poliomielite no Nordeste, e o índice de vacinação era muito baixo, as famílias não levavam as crianças para vacinar, então tivemos colaboração do exército, fez vacinas de casa em casa nas regiões mais problemáticas do Nordeste e nós criamos um concurso nacional para criar um ícone para a vacinação no Brasil, foi aí que surgiu o zé gotinha”, explica Borges.

O ex-ministro comenta que crianças de todas as escolas públicas do país puderam participar do concurso e foi a partir dessa característica de participação que houve o sucesso do personagem. “Ele nasceu do povo, não foi inventado pelo governo”.

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Outro fator importante, segundo Borges, é que após a criação do Zé Gotinha, houve grande estimulação para vacinação na época, em todos os estados brasileiros, com dia nacional de vacinação a cada três meses.

“E a vacinação no Brasil hoje é exemplo pro mundo, é muito bem elaborado, muita competência, mas o que está acontecendo de uns anos para cá é que a população está voltando a ser um desleixo com relação a levar as crianças para vacinar, e aí o risco aumenta”, explica.

Borges destaca a necessidade de prevenção para evitar que doenças erradicadas no país retornem, apontando que “é melhor prevenir do que remediar” e lembrando que a pandemia da covid-19 assustou a população, sendo seguida por declarações de autoridades que não estimularam a vacinação. “Aquilo teve influência, mas a medida que aumentou o número de pessoas infectadas e mortas, a população se alertou e houve um índice de vacinação dos melhores do mundo aqui”.

Outro ponto destacado pelo idealizador do Zé Gotinhas é que a população não acredita que a doença possa retornar. “Eu quando fui ministro da saúde priorizei prevenção e proteção a saúde para evitar que a pessoa fique doente. É muito mais fácil e mais barato inclusive o custo para fazer uma prevenção. Porque depois que é acometido, seja por qualquer tipo de doença, o custo é maior e as consequências são piores, então agora é o momento e exige que seja feito uma campanha muito intensa de conscientização”.

Vacinação

De acordo com Borges, o Brasil é um exemplo de vacinação para o mundo, com programas bem elaborador e competência. Porém, a população está tendo um desleixo na hora de levar as crianças para vacinar, aumentando o risco do retorno de doenças já erradicadas.

Para evitar que isso aconteça, o ex-ministro acredita ser necessário punir os pais que não queiram vacinar os filhos, alegando que para muitos dos acometidos pela poliomielite, sua condição de saúde atual poderia ter sido evitada pela vacinação.

“Conversando com pessoas que tiveram problemas com doença como a poliomielite, muitos deles hoje culpam os pais por não ter se vacinado, então esse alerta que nós temos que fazer para os pais é exatamente isso, que eles são responsáveis para aquilo que pode acontecer com seus filhos. Então eles têm que ter essa responsabilidade, estar com a consciência tranquila de que levar as crianças para vacinar, isso está faltando no Brasil”, destaca.

Com a Anvisa realizando avaliações de possíveis vacinas, estudos e avanços tecnológicos e científicos, é necessário que as pessoas acreditem e confiem que “é a melhor solução e não só para agora, mas para sempre. Então isso aí tem que haver uma conscientização que a pessoa saiba que aquilo é importante, a vacina, como é importante tomar água, como é importante comer, como é importante dormir”, conclui.

Rotary Club

A participação do Rotary Club International na batalha pela erradicação da poliomielite no mundo é histórica. Em 1988, o Rotary, em conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS), lançou a iniciativa global de erradicação da pólio e, desde então, inúmeras campanhas foram realizadas em parceria com entidades públicas e privadas, proporcionando a vacinação de milhões de crianças.

Segundo a governadora do Distrito 4640 do Rotary International, Anne Cristina Gomes da Silva Cavali, em 2013 a Fundação Bill e Melinda Gates se juntou ao Rotary International e se comprometeu a doar o dobro dos valores arrecadados pela instituição para auxiliar na erradicação da poliomielite no mundo, ou seja, para cada dólar investido pelo Rotary no combate da doença, a Fundação Bill e Melinda Gates dobra o valor.

A parceria é renovada a cada 3 anos e se mantém até 2024 com a promessa de $100 milhões no caso de o Rotary conseguir a marca de $ 50 milhões de dólares para a campanha.

“Enquanto Rotary nós estamos todos mobilizados precisamos urgentemente aumentar essa taxa de cobertura vacinal em nosso país para que a doença não volte mais no Brasil, em especial vou falar do distrito 4640 bem como os demais distritos do Brasil, estamos juntos nessa luta”, comenta Anne.

A governadora aponta que todos os participantes do Rotary trabalham na conscientização para levar informações verdadeiras para a comunidade e mostrar a importância da vacinação.

“A gente sabe que houve um reflexo de um movimento contra a vacinação, e isso inclui a vacina da pólio, isso é gravíssimo o que vem acontecendo, são esforços de tantos e tantos anos prestes a erradicar a polio no mundo e em função da não conscientização, do não entendimento por parte das pessoas essa doença pode retornar de forma bastante grave”, destaca.

No Brasil, de acordo com Anne, o Rotary mantém a campanha Salva Vidas, onde o objetivo é orientar a população sobre a necessidade de obter informações verdadeiras sobre os temas ligados a saúde, em especial a vacinação.

Enquanto isso, o Distrito 4640 lançou uma campanha onde os rotaryanos vão até empresas para conversar com os colaboradores sobre a importância da vacinação e as consequências caso não seja feita, principalmente sobre o risco iminente do retorno da paralisia infantil.

“A pró vacinação é fundamental, reforçando que estamos juntos nessa luta, rotaryanos do mundo todo lutando pela vida das crianças, nós jamais vamos desistir disso, tudo isso se assemelha a uma maratona, estamos prestes a chegar a precisamos de um último esforço para erradicação da polio e contamos com todos”, finaliza a governadora. 

Taxa de vacinação

A campanha de vacinação contra a poliomielite no Brasil é realizada anualmente. Para conseguir a proteção por rebanho é necessário a vacinação de no mínimo 95% do público-alvo, que são crianças de até 5 anos de idade. No entanto, em 2022, o Brasil só vacinou 60,87% desse público.

No total 11.572.563 crianças deveriam receber a famosa ‘gotinha’, enquanto apenas 7.044.753 crianças receberam o imunizante, deixando as autoridades preocupadas com a possibilidade de retorno da doença.

Em Pato Branco a taxa de cobertura vacinal chegou a 86,32% de crianças atingidas, o que significa o montante de 4.058 doses aplicadas, enquanto o público-alvo engloba 4.701 crianças.

Suspeita de pólio no Brasil

De acordo com a Agência Brasil, a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) notificou ao ministério que há uma suspeita de paralisia sendo investigada no estado, no município de Santo Antônio do Tauá. O caso é referente a um meno de 3 anos de idade.

O comunicado aponta que outras hipóteses diagnósticas não foram descartadas, porém, a suspeita se dá devido a detecção do poliovírus nas fezes do paciente após apresentação de sintomas como a paralisia dos membros inferiores. Outros sintomas como febre, dores musculares, mialgia e um quadro de paralisia flácida aguda também acometeu o menino.

Os sintomas tiveram início no dia 21 de agosto e o atendimento pela Unidade Básica de Saúde (UBS) aconteceu no dia 12 de setembro após a criança perder a força dos membros inferiores.

De acordo com a Sespa, a família está sendo assistida pelos órgãos de saúde e a criança segue em recuperação na própria casa, sendo que a Sespa está atuando na investigação para esclarecimento do caso.

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